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Kenneth Roth em coletiva de imprensa em 16 de outubro de 2019 em São Paulo - AFP/Arquivos |
A China defendeu nesta segunda-feira (13) seu direito de proibir a entrada do responsável da organização Human Rights Watch (HRW) em Hong Kong, alegando que os diretores da ONG são responsáveis pela revolta na ex-colônia britânica e precisam “pagar o preço”.
Kenneth Roth planejava apresentar esta semana, em uma entrevista coletiva em Hong Kong, o relatório anual da organização sediada em Nova York. A ONG acusa a China de realizar um “intenso ataque” a organizações internacionais de direitos humanos.
Roth disse, porém, que as autoridades o impediram, no domingo, de entrar na cidade quando ele chegou ao aeroporto.
Há um mês, a China anunciou sanções contra ONGs americanas, incluindo a HRW, em retaliação à lei americana recentemente aprovada em favor do movimento pró-democracia de Hong Kong.
“Permitir ou não permitir que alguém entre na China é um direito soberano”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang.
“Muitos fatos e evidências mostram que esta ONG apoiou várias formas radicais anti-China, incentivou a violência extremista e criminal, bem como atividades separatistas”, explicou Geng.
“Tem uma grande responsabilidade pelo caos atual em Hong Kong. Essas organizações precisam ser punidas e devem pagar o preço”, insistiu o porta-voz.
Hong Kong vive há cerca de sete meses protestos quase diários, alguns violentos, que levaram à sua pior crise em décadas. Milhões de pessoas foram às ruas neste centro financeiro semiautônomo para exigir mais liberdade democrática.
O chefe da HRW se junta à lista cada vez mais longa de professores, pesquisadores, políticos e ativistas abertamente críticos da China que não foram autorizados a entrar nos últimos anos.
Em setembro, um intelectual americano não conseguiu entrar na ex-colônia britânica depois de testemunhar em uma audiência no Congresso ao lado de proeminentes ativistas pró-democracia de Hong Kong.
O jornalista do “Financial Times” Victor Mallet teve a renovação de seu visto rejeitada em 2018, depois de ter organizado uma conferência com o líder de uma pequena formação, agora proibida, que militava pela independência de Hong Kong.
Roth disse esperar que seu caso contribua para “demonstrar o crescente ataque de Pequim aos esforços para respeitar os direitos humanos”.
O vice-diretor da HRW para a Ásia, Phil Robertson, disse que quando Roth perguntou por que não poderia entrar em Hong Kong, apenas apontaram que eram “razões de imigração”.
“Acreditamos que ele foi rejeitado, porque o governo chinês teme que o mundo saiba o que está fazendo com o povo de Hong Kong e com o povo da China”, disse Robertson à AFP em Bangcoc.
Em um comunicado, o Clube de Correspondentes Estrangeiros (FCC) disse estar preocupado com que o governo local use o Departamento de Imigração para “agir punitivamente contra organizações e representantes da mídia”.
A ex-colônia britânica atravessa sua pior crise desde seu retorno à China em 1997, com atos praticamente diários para exigir reformas democráticas e se opor ao que os manifestantes consideram uma crescente interferência de Pequim nos assuntos domésticos.
Pequim e o governo local se recusam a ceder às demandas dos manifestantes por eleições livres, investigação da repressão policial e a anistia dos quase 6.500 presos pelos protestos.
Fonte:AFP